Consumo de óleo – 4ª Parte

Se você ainda não leu a 1ª parte, 2ª parte e a 3ª parte pode ser que fique em duvidas no texto seguinte.

5 – Verificação de perdas de óleo através das guias de válvulas

Quando os fabricantes introduziram o sistema de válvulas no cabeçote e mais recentemente posicionaram o comando de válvulas também no cabeçote, criou-se uma situação favorável para o consumo de óleo através das guias de válvulas pois tais peças dependem de um grande fluxo de óleo para uma perfeita lubrificação e o óleo lubrificante acaba por passar para dentro da câmara de combustão através da folga entre guia e haste de válvulas atraído por várias forças.

Duas destas forças são a gravidade e a inércia, que forçam o óleo da câmara dos balancins para dentro da tubulação, cada vez que a válvula abre. As outras são o vácuo formado na câmara de combustão no tempo de admissão do motor e o vácuo formado em ambas as válvulas, no tempo de escapamento, devido aos gases que fluem em alta velocidade junto às extremidades das guias e aspiram o óleo para o coletor de escapamento onde é queimado.

Esta última ação é semelhante à de uma pistola onde um jato de ar, passado em alta velocidade, aspira a tinta do reservatório através de um tubo e a pulveriza por um bocal.

O óleo que passa através das guias de válvulas entra na câmara de combustão,queimando-se e aparece em forma de fumaça cinza-azulada saindo do cano de escapamento. Examine o consumo de óleo através das guias de válvula da seguinte forma:

A) Faça a prova da fumaça.
Note cuidadosamente a quantidade e a cor da fumaça.
B) Em seguida, remova as tampas de válvulas e desligue o abastecimento de óleo para o conjunto dos balancins.
C) Depois que o motor estiver quente, dirija o carro por uns 10 ou 15 km e repita a prova de fumaça. Se a fumaça no cano de escapamento não tiver mais a cor cinza-azulada, tiver diminuído ou desaparecido, é prova de que o óleo estava passando através das guias de válvulas.


Motor com válvulas e comando no cabeçote.

Atenção: A prova deve ter duração suficiente para queimar qualquer resíduo de óleo que possa ter sobrado no sistema. As válvulas podem funcionar sem lubrificação durante uma hora sem riscos. Após a conclusão da prova, não se esqueça de restabelecer o fluxo de óleo ao conjunto dos balancins.

O processo de desligar o fluxo de óleo ao conjunto dos balancins varia de acordo com a construção dos motores.


Forças que impelem o óleo para a câmara de combustão.

Assim sendo, devemos em primeiro lugar localizado o sistema de comunicação empregado para a passagem do óleo da galeria do cabeçote até o eixo dos balancins e de alguma forma, interromper essa passagem a fim de efetuar o teste da fumaça, como descrito anteriormente.

A figura abaixo mostra um tipo de sistema de lubrificação dos balancins. O fluxo de óleo é indicado em amarelo. Para cortar o fluxo de óleo para o conjunto dos balancins, localize primeiro o suporte que tem uma passagem perfurada.


O óleo (indicado em amarelo) alcança o mecanismo das válvulas através de passagens no cabeçote e no suporte do eixo dos balancins.

Na maioria dos casos, há apenas um suporte para cada cabeçote de cilindro através do qual o óleo chega ao eixo dos balancins. Algumas vezes, os cabeçotes da direita e da esquerda, nos motores em “V”, são intercambiáveis e conseqüentemente, s localização do suporte, com relação à frente do motor, não será a mesma em ambos os lados.

Localizado o suporte, solte o parafuso ou parafusos que o fixam, bem como os parafusos adjacentes que forem necessários e introduza uma fina folha de metal entre o suporte e o cabeçote do cilindro para obstruir a passagem perfurada.


Usando um calço para interromper o fluxo de óleo as válvulas.


Vista em corte lateral do calço interrompendo o fluxo de óleo.

Aperte os parafusos, faça uma prova de estrada e observe a fumaça.

Num outro tipo de suporte, mostrado na figura abaixo, o óleo (indicado em amarelo) é impelido para cima ao redor do parafuso que fixa o suporte.


O óleo (indicado em amarelo) é forçado para cima ao redor do parafuso do suporte a fim de lubrificar o sistema das válvulas

Nesse caso, em primeiro lugar, solte todos os parafusos dos suportes através do qual circula o óleo e coloque uma arruela de borracha ou um anel de válvula sobre a parte rosqueada do parafuso.

Dessa maneira, formar-se-á uma vedação entre o suporte e o topo do cabeçote quando o suporte e o parafuso forem recolocados, podendo-se então proceder à prova de fumaça.

No motor Volkswagen, embora o serviço seja mais trabalhoso, também é possível verificar-se se esta ocorrendo consumo de óleo pelas válvulas.

Basta soltar o balancim e colocar-se um pedaço de chumbo na ponta da vareta. Dessa forma interrompe-se a passagem de óleo e reinstalando o balancim pode-se passar à realização da prova de fumaça.


Coloca-se um pedaço de chumbo na ponta da vareta.

Ocasionalmente, quando se removem os cabeçotes e se inspecionam os canais de admissão e descarga das válvulas e a cabeça dos pistões, percebe-se que o consumo excessivo de óleo se limita apenas aos cilindros de um lado. Isto pode ser causado pelo fato de o eixo dos balancins, daquele lado, ter sido instalado de cabeça para baixo. Salvo algumas exceções, os orifícios de lubrificação dos eixos dos balancins devem estar, normalmente, voltados para a parte inferior do balancim.

Nessa posição, a força ascendente do balancim, exercida pela tensão da mola da válvula, restringe o fluxo de óleo vendo do eixo dos balancins e impede qu euma quantidade excessiva escape.

Instalando-se o eixo dos balancins de cabeça para baixo, permite-se que uma quantidade excessiva de óleo atinja o conjunto dos balancins e entre na câmara de combustão, através das guias de válvulas.

Use sempre um torquímetro para instalar os suportes dos balancins e aperte-os nos torques recomendados pelo fabricante.

Torque excessivo pode provocar a fratura do suporte, permitindo que o óleo escorra para as guias e hastes das válvulas adjacentes, provocando a perda de óleo. Um vazamento dessa natureza faz com que os canais de admissão e a cabeça dos pistões adjacentes ao suporte partido, fiquem umedecidos com óleo.

Tais vazamentos podem ser descobertos, operando-se o motor em marcha lenta, estando os balancins sem a tampa, e observando-se o fluxo de óleo vindo do eixo.

Para se ter uma idéia de como o consumo de óleo pelas válvulas chega a ser crítico, foram realizados testes numa bateria de 8 motores, concluindo-se que em media de 35% do consumo total, ocorria pelas válvulas.

Como se vê no gráfico abaixo, o consumo total de óleo esta dividido, entre o que passa através dos anéis gastos e o que passa pelas folgas entre hastes e guia de válvulas, sendo que em alguns motores, o consumo pelas válvulas chegava até 50 % do consumo total de óleo.

Gráfico do % Consumo de óleo

Influência das folgas entre hastes e guia de válvulas no consumo de óleo.

Outro ponto que merece especial atenção é que mesmo com a folga correta entre guia e haste de válvulas, o motor poderá apresentar consumo de óleo, se não forem instalados corretamente os selos de válvulas como especifica o fabricante do motor.

Os selos do tipo “copo”, como mostrado na figura abaixo, devem cobrir a guia quando a válvula esta fechada, pois, se o óleo penetrar dentro do selo, poderá ser bombeado por ele para dentro da câmara de combustão.

Posição de instalação dos selos.


Alguns tipos de selos ou vedadores de hastes de válvula.

Update: 5ª parte